ESCLARECIMENTOS E CURIOSIDADES SOBRE CRIANÇAS


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"A Pediatria não é apenas uma atividade médica em seu sentido habitual.
Ela é também, senão sobretudo, um "estado de espírito", que assegura a permanência dos esforços a favor da criança e que tem como alicerce o amor a ela, não o amor que se exprime em prosa e verso, mas que se exterioriza em ação."
PEDRO DE ALCÂNTARA


quinta-feira, 12 de março de 2015


QUAL A DIFERENÇA ENTRE INTOLERÂNCIA À LACTOSE E ALERGIA AO LEITE DE VACA?


Essas duas patologias, são frequentemente confundidas pelo fato de ter um alimento causador em comum: o leite, mas são bem diferentes entre si e ambas necessitam de acompanhamento médico e nutricional.

A Intolerância à lactose ocorre porque o organismo não produz ou produz pouca quantidade da enzima lactase, responsável pela digestão da lactose. A falta dessa enzima favorece o acúmulo da lactose no intestino, onde atrai água, ocorre fermentação por bactérias, provocando diarréia, gases, cólicas e distensão abdominal. Pode ser genética ou surgir em outras situações, como após quimioterapia, radioterapia, doenças gastrintestinais, entre outras. Neste segundo caso pode ser transitória ou não. Geralmente quando persiste, tende a piorar com a idade.

A Alergia ao leite de vaca ou alergia à proteína do leite, como é conhecida por muitos ocorre pela presença de algumas proteínas do leite que são identificadas pelo nosso sistema imunológico como um agente agressor, desencadeando vários sintomas desagradáveis, como: diarréia, gases, cólicas, distensão abdominal, lesões na pele, dificuldade de respirar, pequeno sangramento intestinal, entre outros. Ocorre mais agressivamente nos primeiros anos de vida, principalmente na transição do leite materno para o leite de vaca em bebês menores de 6 meses de vida. Os sintomas tendem a diminuir com passar dos anos.

Se ocorrerem sintomas como os descritos acima é importante procurar ajuda e diagnosticar rapidamente para que se inicie o tratamento correto, pois na intolerância é necessário excluir ou ingerir baixa quantidade de alimentos que contenham lactose (depende o grau de intolerância), já na alergia ao leite de vaca é excluída a ingestão de qualquer proteína do leite ou alimentos que contenham frações desta para evitar o desencadeamento do processo alérgico. 



INTOLERÂNCIA À LACTOSE

O que é?

É a incapacidade de aproveitarmos a lactose, ingrediente característico do leite animal ou derivados (laticínios) que produz alterações abdominais, no mais das vezes, diarréia, que é mais evidente nas primeiras horas seguintes ao seu consumo.


Como se desenvolve?

Na superfície mucosa do intestino delgado há células que produzem, estocam e liberam uma enzima digestiva (fermento) chamada lactase, responsável pela digestão da lactose. Quando esta é mal absorvida passa a ser fermentada pela flora intestinal, produzindo gás e ácidos orgânicos, o que resulta na assim chamada diarréia osmótica, com grande perda intestinal dos líquidos orgânicos.
Existem pessoas que nascem sem a capacidade de produzir lactase e, enquanto bebês, sequer podem ser amamentados, pois surge implacável diarréia.

Por outro lado, em qualquer época da vida pode aparecer esta incapacidade de produção ou uma inibição temporária, por exemplo, na seqüência de uma toxinfecção alimentar que trouxe dano à mucosa intestinal. Igualmente, a dificuldade pode advir de lesões intestinais crônicas como nas doenças de Crohn e de Whipple, doença celíaca, giardíase, AIDS, desnutrição e também pelas retiradas cirúrgicas de longos trechos do intestino (síndrome do intestino curto).
A deficiência congênita é comum em prematuros nascidos com menos de trinta semanas de gravidez.

Nos recém-nascidos de gestações completas, os casos são raros e de caráter hereditário.
A concentração da lactase nas células intestinais é farta ao nascermos e vai decrescendo com a idade.
Nos EUA, um a cada quatro ou cinco adultos pode sofrer de algum grau de intolerância ao leite. Os descendentes brancos de europeus têm uma incidência menor de 25%, enquanto que na população de origem asiática o problema alcança 90%. Nos afro-americanos, nos índios e nos judeus, bem como nos mexicanos, a intolerância à lactose alcança níveis maiores que 50% dos indivíduos.


O que se sente?

É variável de pessoa a pessoa e de acordo com a quantidade ingerida.
Assim, a maioria dos deficientes de lactase pode ingerir o equivalente a um ou dois copos de leite ao dia, desde que com amplos intervalos e não diariamente. Ainda que minoritários, não são raras as pessoas que, desde pequenas, evitam ou não gostam do leite, mesmo sem se darem conta que são assim porque o leite e derivados lhes faz mal.

Os pacientes percebem aumento de ruídos abdominais, notam que a barriga fica inchada e que eliminam mais gases. Quando a dose de leite ou derivados é maior surge diarréia líquida, acompanhada de cólicas. A queixa de ardência anal e assadura é porque a acidez fecal passa a ser intensa (pH 6,0).
A maioria dos pacientes que só tem intolerância a lactose, não tem evidências de desnutrição, nem mesmo maior perda de peso. Quando isso ocorre, pode haver a associação da intolerância com outras doenças gastro-intestinais.


Como o médico faz o diagnóstico?

Freqüentemente a intolerância à lactose é sugerida pela história clínica, principalmente quando os dados são definidos e especificamente perguntados.
A diminuição de sintomas após algumas semanas de dieta livre de lactose serve como teste diagnóstico/ terapêutico.

O Teste de Tolerância à Lactose é o usado em nosso meio, pois não dispomos do Teste Respiratório, tido com o mais sensível e certamente o mais simples dos métodos.
Entre nós, o paciente recebe para beber um copo d'água contendo de 50 a 100 g de lactose e lhe é tirado sangue quatro a cinco vezes no espaço de duas horas. Quando a diferença entre a dosagem sangüínea da lactose de jejum e o pico da curva das demais medidas se mostrar menor de 20 mg%, o teste tem "curva plana" e é considerado positivo, indicando má absorção de lactose nessas pessoas.

Há possibilidade de erro nos diabéticos, entre outros. A ocorrência de diarréia, ainda no laboratório e ou nas primeiras horas a seguir, reforça a conclusão de diagnóstico positivo para intolerância à lactose.


Como se trata e como se previne?

Uma vez caracterizado o diagnóstico, pode se prevenir novos sintomas não usando leite e laticínios. Usando-os, a prevenção é mediante a tomada de fermento sintético prévia a qualquer ingestão de lactose. Cabe salientar que vários medicamentos, inclusive antidiarréicos e anti-reumáticos contêm lactose no chamado excipiente, ou seja, no pó ou no líquido necessário para poder conter a substância básica num comprimido ou solução; isso é importante quando avaliamos os efeitos indesejáveis referidos pelos usuários.

Alergia ao leite de vaca 
Departamento de Alergia e Imunologia da SBP

1- A alergia à proteína do leite de vaca pode manifestar-se através de lesões na pele com coceira (urticária), diarréia, vômitos e menos freqüentemente por sintomas respiratórios como chiado no peito e espirros.
2- Em torno de 1 em cada 20 lactentes tem alergia ao leite de vaca, sendo que o risco desta doença aumenta em até 40% quando um familiar de primeiro grau (pai ou irmão) são alérgicos.
3- Grande parte dos casos de alergia ao leite de vaca ocorre no primeiro ano de vida, a tolerância a este alimento é muito variável, depende principalmente da herança genética.
4- É uma das poucas alergias onde pode ocorrer a remissão completa do quadro, e desta forma a maioria dos alérgicos ao leite adquirem tolerância a este alimento e seus derivados.
5- Qualquer alimento pode causar alergia, mas um grupo reduzido é responsável por 90% dessas reações nos primeiros anos de vida, entre estes o mais freqüente é o leite de vaca.
6- A alergia à proteína do leite de vaca não deve ser confundida com a intolerância ao açúcar presente no leite (lactose), porque são mecanismos bem diferentes. As manifestações da alergia ocorrem geralmente após introdução do leite de vaca, os sintomas na pele representam as principais manifestações, podendo estar associados sintomas gastrointestinais ou respiratórios. No caso da intolerância à lactose, ocorre uma diminuição intestinal da enzima que atua sobre o açúcar do leite (lactase), comum nos bebês com diarréia grave. Esta intolerância é transitória. Melhorando o quadro gastrointestinal, a quantidade da enzima volta ao normal e a criança volta a tolerar o leite.
7- Na alergia ao leite de vaca as manifestações ocorrem mesmo quando a ingestão é em quantidade mínima.
8- Para realizar o diagnóstico de alergia à proteína do leite de vaca, a história relatada pelos pais é fundamental e orienta a realização de exames complementares que auxiliam no diagnóstico.
9- Na coleta de dados devemos ter informação sobre a lista de alimentos suspeitos, via de exposição (oral, inalatória), intervalo entre a exposição e o aparecimento dos sintomas, duração e especificação destes sintomas, resposta do paciente a tratamentos utilizados e reprodução do quadro alérgico sempre que houver ingestão ou inalação do alimento.
10- Os exames para investigar alergia ao leite de vaca por mecanismo que utiliza anticorpos IgE, podem ser realizados de duas formas. Os testes alérgicos realizados na pele verificam a sensibilização às várias proteínas do leite através da reação na pele do paciente. Os exames realizados retirando o sangue do paciente e verificando os anticorpos IgE específicos no laboratório têm como maior vantagem a segurança, pois os testes na pele podem levar a reações alérgicas, embora isto seja muito raro de ocorrer. As duas modalidades de testes são válidas, o pediatra especialista irá decidir qual deles é mais indicado para cada caso.
11- Alguns pacientes apresentam positividade nos exames, mas quando ingerem o alimento não apresentam reação alérgica. Portanto somente os resultados positivos dos exames não são suficientes para fazer o diagnóstico. O resultado negativo do teste, na grande parte dos casos, afasta a suspeita da alergia ao leite.
12- Os testes realizados em laboratório para determinar a sensibilização às proteínas do leite de vaca também não definem o diagnóstico. A presença isolada dos anticorpos IgE específicos, sem correlação com os sintomas, indica apenas sensibilização mas não podemos afirmar que o leite de vaca seja responsável pela reação alérgica.
13- O diagnóstico da alergia ao leite de vaca não pode ser realizado apenas com exames laboratoriais.
14- O único tratamento para alergia à proteína do leite de vaca é a restrição da ingestão do leite de vaca e seus derivados.
15- As crianças menores precisam um alimento adequado que substitua o leite de vaca e que ofereça quantidades adequadas de nutrientes nesta fase importante do desenvolvimento e o crescimento.
16- A proteína do leite de vaca e a de cabra tem muita semelhança, podendo ter 80% de proteínas similares. Portanto a grande maioria dos casos que é alérgico ao leite de vaca também será ao leite de cabra.
17- Nos primeiros seis meses de vida e quando ocorre inflamação intestinal não está recomendada a utilização de fórmulas a base de proteína de soja. Em torno de 30% dos alérgicos ao leite de vaca desenvolve alergia à soja.
18- Portanto o tratamento deve ser realizado com fórmulas hipoalergênicas (extensamente hidrolisadas). Nestas fórmulas, as proteínas do leite estão fracionadas em 90%, diminuindo as possibilidades de causar alergia. Nos casos mais graves necessitamos utilizar fórmulas não alergênicas (estas não contém proteínas intactas, mas somente aminoácidos), desta forma evitamos quaisquer reações alérgicas.
19- Orientações para os familiares devem incluir informação sobre os derivados do leite, leitura detalhada de rótulos dos produtos industrializados, ingredientes que podem conter leite de vaca (alfacaseína, betacaseína, caseinato, alfalactoalbumina, hidrolisados, betalactoglobulina, aroma de queijo, lactulose, lactose presente em medicamentos).
20- O aleitamento materno exclusivo, por pelo menos quatro meses, quando comparado às fórmulas habituais, diminui a incidência de alergia ao leite de vaca nos dois primeiros anos de vida. Não existem justificativas de que a dieta de restrição da mãe, na gestação e na amamentação, possa prevenir o surgimento de alergias alimentares. A restrição do leite materno somente será considerada se houver reações comprovadamente alérgicas no lactente que estiver sendo amamentado.

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